A experiência sensorial na gastronomia é essencial para aguçar os paladares e ela começa a ser promovida através de uma junção entre sentimentos, sensações e sentidos. Para explicar melhor, quando degustamos um alimento, utilizamos os nossos sentidos que geram sensações físicas e, através da memória gustativa, despertam sentimentos bons ou ruins associados àquele prato. Quer saber mais sobre o tema? Continue lendo o nosso artigo!
A experiência sensorial é muito importante, pois nos permite apreciar a arte da gastronomia em sua totalidade, e a apresentação dos pratos é um requisito essencial para gerar uma experiência sensorial marcante, pois há quem diga que nós comemos primeiro com os olhos – uma afirmativa que pode ser verdadeira, considerando que, antes mesmo de observarmos a comida, nós sentimos o aroma e ouvimos o seu preparo. Por isso, uma comida, quando bem apresentada, faz toda a diferença, pois nos instiga positivamente.
Gastronomia afetiva e comfortfood: entenda a tendência culinária
Segundo Fábio Cunha, consultor e chef de cozinha do Chez Nanny Cozinha e Vinhos, em João Pessoa (PB), o ser humano, enquanto embrião, ainda na barriga da mãe, já começa a ter contato com o mundo exterior através da alimentação materna, em que inicia essa comunicação afetiva através do alimento.
Quando esse bebê nasce, o primeiro contato que ele tem com o mundo exterior é através da amamentação do leite materno, e é essa mãe que vai alimentando a criança ao longo do seu desenvolvimento com alimentos, como: papinhas, frutas, legumes de uma determinada região e construindo, assim, a memória gustativa daquela pessoa. “Então, a mãe ensina: isso é feijão, isso é arroz, isso é carne e, com isso, a criança vai criando o seu catálogo de gostos ao longo da vida”, esclarece. A partir daí, ela associa a sua memória afetiva com os alimentos. Logo, pensar em receitas que trazem essas sensações de conforto aliadas às memórias afetivas, podem gerar uma experiência única para cada um.
Comfort food, ao pé da letra, se refere a comidas que trazem uma sensação de conforto. Esses alimentos nos remetem a alguns momentos afetivos, momentos bons, a família e amigos, e a experiências gastronômicas das quais nos sentimos felizes. “Todo o alimento ou comida que traz essa sensação de afetividade são chamados de comfort foods, principalmente aquelas ligadas às nossas relações pessoais, como avós, pais, tios etc.”, aponta Cunha. Já a gastronomia afetiva é a mais particular de todas, enquanto os sabores são identificados com a nossa língua: doce, azedo, salgado, amargo e o Umami, que é a junção de todos esses, considerado o quinto sabor, e significa algo como “saboroso” em japonês; o gosto, é formado pelas nossas memórias que são construídas ao longo da vida.
Memória gustativa e experiência sensorial na gastronomia
Na memória gustativa, as lembranças de todas as comidas e bebidas do seu repertório interno evocam recordações de prazeres gastronômicos do passado, que são trazidas para o momento presente ao experienciar as mesmas sensações, através da memória afetiva com aquele determinado prato.
Esse processo se dá através da combinação de alguns estímulos químicos (paladar e olfato) e físicos (visão, audição e tato), que despertam memórias afetivas ligadas diretamente à alimentação, ao relacionar o consumo de alguns alimentos com as emoções associadas às vivências pessoais de cada um em diferentes fases da vida. “Considero que a gastronomia é a única arte que podemos degustar com todos os sentidos. Nós temos a visão, que nos permite observar as cores, as texturas, os formatos; o olfato, que nos permite sentir os aromas; e o paladar, que nos permite sentir o sabor”, destaca o chef.
Através das memórias gustativas é possível criar a definição do gosto, pois gosto e sabor são completamente diferentes. “Nós temos também a audição, que nos permite sentir os sons associados à comida, como o mastigar, o preparo da comida com o chiar da chaleira e o borbulhar das panelas. E, por fim, nós temos o tato, que nos permite tocar a comida e senti-la com todo o nosso corpo”, ressalta.
Ainda, de acordo com o chef, que atua como docente no curso de Graduação e Pós-Graduação em Gastronomia em universidades nos Estados da Região Nordeste, a apresentação também é outro quesito fundamental para gerar uma boa experiência sensorial ao comensal. “Um prato, quando bem apresentado, que tenha equilíbrio e harmonia, consequentemente, saberá os caminhos para a contemplação adequada deste alimento”, complementa. Logo, combinar cores e texturas que harmonizam e contrastam entre si, faz com que despertem os nossos sentidos a vontade de degustar aquele prato.